quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Giro no Pedal : À volta dA VOLTA ! - Etapa Rainha

Em jeito de concordância com a temática do que se avizinhava comecei o dia com um arranque em fuga. Breve passagem pelo local de trabalho, onde me esperava a encomenda terminada em horário alargado horas antes, e que fui levar, ainda o sol ia brando, ao cliente madrugador.
Para poder entrar no programa marcado pelo amigo Rui Sousa e saudar o seu homónimo numa cota superior, pus-me a pé ainda antes das 7h00. É que do serão, tinha sobrado a montagem das rodas e a lubrificação da transmissão da Finesse -a bicicleta que me tem ocupado as pedaladas nos últimos tempos.


O plano iniciava-se por Valhelhas com hora marcada. Às 10h30 esperávamos pela malta de Figueira C.R. e  mais alguns da Guarda que acabaram por não alinhar num grande passeio,  virado primeiro para Belmonte - o ponto de partida da 7ª etapa da sexagésima sexta edição da Volta a Portugal em bicicleta.







A ânsia de ver alguns pedais famosos , entre eles o 'nosso' Davide Rodrigues, por entre as paddocks instaladas no centro das Terras de Cabral deu azo a um ritmo sôfrego no início, mas logo abrandámos ao lembrarmos o trajecto planeado. Era preciso resguardar forças para a nossa etapa de montanha!

Por um empinado atalho a sair do Ginjal chegámos ao centro de Belmonte, onde os populares já só circulavam apeados - quem o garantia eram os agentes e agentas (!) da GNR distribuídos pela vila. Resmungavam os cleats, sem saberem que ainda a procissão ia no adro...






Atravessámos então a Linha de Partida que ombreava com o palco montado onde os ciclistas - os verdadeiros- assinalavam presença no livro de ponto, enquanto que a típica voz grave do locutor ecoava fazendo referência ao palmarés de cada um, ás condições da prova e á meteorologia para o dia.

O largo que servia de base para as equipas, e para algumas tendas de vendas, estava na rua por trás. A trabalhar estavam os conhecidos rolos estacionários para o aquecimento antes da etapa, e jornalistas á procura do melhor prognóstico junto dos atletas.  Um pouco mais abaixo na rua tivemos uma curta conversa com o Vitor Gamito que procurava emparelhar o iphonix com o garminas para este enviar a sua posição na corrida para todos os seguidores.


Desejámos-lhe força e sorte para os mais de 172 kms que tinha para fazer, dentro de minutos. O ambiente estava condimentado por um burburinho agradável com muita gente por todo lado.






















Meia dúzia de passos e encontramos malta da Guarda: o Alexandre fugiu da loja para servir de fiel depositário da bicicleta mais famosa por estes dias: a que transporta o novo expoente do desporto da Guarda - David Rodrigues. Á hora que escrevo é o ganhador da Camisola Branca da Juventude RTP. Resultado patente na classificação geral e definitiva da Volta a Portugal de 2014.
Viria a ter nesta etapa um bom desempenho, ganhando preciosos segundos ao seu mais directo adversário, o colombiano Heinar Parra.
Chega entretanto também áquela pequena roda de gente, os Tiaguss & Herdeiruss que vinham também, como nós, viver esta proximidade que A Volta  nos proporciona.
Entretanto damos conta que estava A Volta mesmo a partir e tomámos lugares. Á voz do locutor saiem os ciclistas e logo no seu encalço os carros de apoio, com as motos e ambulância. Ovação e palmas do público que assiste. Estava lançada a etapa rainha d'A Volta!




Mal houve espaço fizemo-nos também á estrada em direcção ao Mondeguinho via Sameiro. No caminho abrimos lugar nesta mini-caravana para o João Pina , um velho amigo do Rui, que também tinha estado por Belmonte a alegrar as vistas.

Já em Manteigas e antes da subida para a Pousada de S. Lourenço, sacámos da bucha para retemperar forças. Queríamos, antes de chegarem os primeiros ciclistas, sentar na potentíssima (aprendi isto na última vez que lá estive com o Curralz, um amigo do Reinaldo) esplanada do Ti Branquinho e encher o bandulho (tal como haveria de ser reconhecido lá à frente...) com mais uma daquelas sandes em que quase, quase metem a Serra lá dentro!



É das subidas em alcatrão que mais gosto de fazer. A inclinação tem períodos diferentes mas é regrada na distribuíção por entre as 8 curvas-chouriça e deixa que adaptemos facilmente o nosso ritmo entre cada socalco até ao final dos 17kms de duração. Além disto tem água sempre fresca no local certo, para reabastecimento do cantil , e uma distraída varanda aberta sobre o Vale Glaciar.












Á passagem pela Casa do Guarda estavam o Paulo R. e o irmão que tinham vindo de carro para dar uma força extra ao David Rodrigues. A estratégia era espalhar todos os apoiantes por vários pontos. Logo ali ensaiaram as vozes para o tom certo á nossa passagem... senti de imediato como é a força dos fãs no ar... mas sem chegar ao pedal! 

Acelerámos a pedalada depois da moto da GNR nos ter aconselhado a encostar, uma vez que o pelotão já se encontrava a descer para Manteigas vindos do Centro de Limpeza de Neve.
Pouco antes do cruzamento para as Penhas Douradas somos ultrapassados pelo ciclista Asbjorn Kragh (equipa Christina Watches), que apesar da expulsão por conta da cena de pugilato á chegada na etapa de Viseu, continuou a aproveitar a estadia para treinar.. as pernas, já que a simpatia do esgar cravado na face era nula...  E foi ele que nos ganhou logo ali a passagem pelo 2º Prémio de Montanha! Para nos vingarmos, demos espaço e mal dobrou a curva depois do Mondeguinho virámos para a D. Judite sem lhe dizer nada!!


A encomenda das 3 sandes saiu na mesma hora que nos abancámos a espreitar e a tentar antecipar a chegada dos verdadeiros! Nós e algumas dezenas de aficionados que por ali aguardavam. A espera foi breve e não deixou terminar a refeição.







Passa o colega Vassoura (o do Carro!) e com ele o sinal para avançarmos para a Torre já com os cantis cheios de Mondego fresco! Tínhamos de aproveitar o tempo, porque aqueles pro's já tinham mostrado poderes de locomotiva e não demorariam muito tempo a descer para Gouveia , girar a Seia e subir para onde nós atalhávamos agora: Sabugueiro!

Entrámos no centro do Sabugueiro a desviar-nos de carros e pessoas.  Talvez por ter falhado outras edições fiquei admirado com a quantidade de gente que, a meio da semana, se disponibilizou a apoiar os corredores. Muitos emigrantes é certo, mas também muitos "presos" ao país acudiram ás bermas.

Depois não há muito que contar... foi subir. Do Sabugueiro sobe-se!  Fomos pedalando da forma que podemos até chegarem as ordens, da GNR, de encostar ou apenas a permissão de seguir com as bikes á rédea...
Cumprimos escrupulosamente, enquanto nos podiam controlar... mas mal avançavam para longe da vista voltávamos a montar nelas e a ganhar metros á altitude, ficando mais próximos da meta na Torre.


















Finalmente ficámos parados logo acima da linha em que a estrada sobrepassa as grandes condutas de água e a cerca de 15Kms da Torre.
Foi ali que vimos Rui Sousa (o atleta) a encabeçar a frente da corrida e Delio Fernández quase a 'segurar-lhe' a roda. Já  a camisola amarela vestida por Gustavo Veloso vinha num pequeno pelotão um pouco mais atrás.



Quanto ao "nosso" David Rodrigues vinha em bom ritmo algumas posições abaixo. Ia de tal maneira concentrado que as nossas palavras de apoio não lhe tiraram os olhos da estrada.
 Este foi a última captação do telefone. Nem para fotos... cartão cheio.


Sabíamos que ainda não tinham passado todos, mas mal ficaram as motos fora de vista, voltámos ao nosso. Pedalámos calmamente os 14% de "inchaço" que aquela secção da subida tinha.
Só levantámos a cabeça quando começámos a ouvir palmas e palavras de apoio... Estávamos a chegar a uma curva  (o parapeito escolhido para muitos populares verem A Volta) e estranhamente parecia que as pessoas nos reconheciam...
2 segundos mais tarde tinha exactamente a ideia contrária: as pessoas estavam a confundir-nos com os verdadeiros, os atletas de alta competição!!
Agradecemos o gesto, e negámos o estrelato quando a distância ajudou a clarificar o erro de comparação. Os risos foram imediatos de parte a parte. Logo chegaram cumprimentos á nossa (aqui o plural ameniza as críticas á minha excelente forma física) altura:

"- Tens um bandulho igual ao meu!! Já não vais para longe! "


"- Ai... vocês enganam-nos ! Vocês não são... não são ciclistas!! - dizia uma senhora.
Não somos? Então somos o quê? - perguntei a rir-me
- Vocês são, mas são de fim-de-semana!!"


Posso garantir que havia gente em todas as curvas da estrada e que até lá acima ouvimos muitos piropos.
Deles sobressai esta pérola:

" - Ao que isto chegou. Vejam só que n'A Volta a Portugal já pedalam cabeludos das pernas!!
  Ao que chegámos!!!.... "

E é verdade, a cera é uma coisa que só me toca de raspão e é nas orelhas!

Tempo ainda para ver passar o homem que tem dado show ao show dA Volta: Vitor Gamito.
 Lá ia ele a liderar um pelotão! Ninguém da restante malta muito mais nova ousava ultrapassá-lo.
"Vai Gamito, força aí !!! "

Quando um dos últimos grupetos passou por nós, notámos uma propulsão desconexa da posição que ocupavam á geral. 2 dos mais atrasados, para não dizer últimos, iam já de braço esticado ás rodas sobresselentes de um carro de apoio: um Subariu da Christina Watches. É que só mesmo a Christina é que estava a ver, porque se algum comissário via...
A seguir passa o colega do Carro-Vassoura e de repente vemo-nos embrenhados num trânsito infernal de carros, já a descer junto á Barragem do Covão do Curral, com a mesma vontade que trazíamos - chegar á Torre.

Por esta altura já tinham passado os calores de altitudes mais baixas, e posso dizer que o sol era bem recebido. Fazia-se sentir a brisa da Serra. Desde o Sabugueiro que me vinha à ideia o tempo que estaria na Torre, lá baixo tínhamos visto que "estava lá o capacete" e para quem vem de jersey e calção, mesmo em Agosto pode rapar um frio daqueles.
Junto à rotunda para Valezim e Sazes da Beira, encontrámos um valente casal que se fazia deslocar numa Tandem! Serra acima, impunham todo o esforço na pedalada síncrona e lenta, mas firme.
A placa castanha que a seguir cruzámos bem podia indicar "Nevoeiro Cerrado " em vez dos 1700m de altitude. É que foi mesmo assim: soalheiro do lado mais baixo e  vento com névoas compactas na direcção da subida. 

Corria o kilómetro 80 e mais um rol de piropos, desta vez um grupo de malta nova em pleno lanche num largo. Duas ou três arcas de gelo no chão, uma mão no bolso e outra a segurar uma pequena garrafa:

"- Ui, vocês já vão chegar com o controle fechado! hehehe
- Dá-lhe corda ás pernas!!"

Sorrimos e devolvemos um:
Oh pessoal , o nosso controle? Somos nós que temos a chave!

Lá entenderam que a coisa podia seguir melhor com uma ajudinha e lançam uma irrecusável oferta:

" E se viessem beber uma , pró caminho??!"

Ensinaram-me uma vez que "as boas palavras nunca tiveram más respostas"  e na mesma volta de pedal eu e o João Pina virámos a 90º graus e fomos juntar-nos ao grupo que soubemos depois era de Arganil e para além de carregar minis para Serra pedalavam e tudo!
Reagrupámos ali com o Rui que vinha metros atrás e regressámos á estrada, agradecendo a simpatia de Arganil! Aquela mini veio mesmo a calhar!


Entretanto lá acima, dava-se uma lição de ciclismo:



Nestes últimos kilómetros da Torre viam-se mais autocaravanas, mais cartazes e toldes de apoio, mais gente e agora com sol novamente pelas costas. Cruzámos a Linha de Meta como os verdadeiros, mas com as equipas dos bastidores já a desmontar toda as estruturas que dão forma áquele corredor de glória. 
Tirámos a foto da praxe antes de voltarmos ao caminho de regresso. Serpentámos os carros que faziam a descida para o Centro de Limpeza de Neve para logo nos separarmos. O João Pina sairia dali para a Covilhã e nós para Valhelhas.





Já há muito tempo que não estava com A Volta, mas desta tirei a barriga de misérias!
Boas pedaladas!








Mais vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=-vQRlyTumaA

https://www.youtube.com/watch?v=_rH31qAQ3fw

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