terça-feira, 30 de abril de 2013

OnTour : Caminho Português do Interior - Santiago de Compostela '13


Os Caminhos de Santiago são, a par de outras rotas a locais de culto como Lourdes em França, Fátima em Portugal, Assis em Itália, ou a grande Meca na Arábia Saudita, uma prova de fé dos crentes mas também uma forma de purgarem os seus pecados, quer pela variação no conforto a que se submetem, quer pelas dificuldades que atravessam no caminho e que o caminho proporciona. 
Para lá dos peregrinos existem outros viajantes nesses antigos percursos.  Alguns movidos pelo desafio e a vontade de superação pessoal incluídos numa tirada de vários dias, mas alguns haverá que juntam a religião ao motor que os impulsiona pelos trilhos. Escolhem como montadas, as bicicletas e nelas carregam os haveres e os "nécéssaires" para os dias que passam de pedal em riste. 


Dos BikeVassouras que inicialmente falavam do tema (há cerca de 2 anos) e se votavam numa jornada até Santiago de Compostela, mantiveram o repto até ao dia de saída o Carlos Martins e eu. Uns por lesão, outros por dificuldades na agenda ficaram impedidos de alinhar connosco.


  • A preparação
Neste capítulo estimo cerca de 35% do sucesso da viagem. Por preparação entenda-se o desenvolvimento da parte física do corpo e o planeamento, organização da logística da viagem.
O que levar? Onde transportar? Qual o peso máximo suportável? Onde pernoitar? Qual caminho escolher? São todas perguntas com real importância, na hora de preparar a bagagem. 


  • O caminho

Pela nossa parte escolhemos percorrer o Caminho Português do Interior que liga a Sé de Viseu à fronteira com Espanha em Vilarelho da Raia em Chaves ao longo de cerca de 210 kms, passando pelos concelhos de Castro Daire, Lamego, Santa Marta de Penaguião, Vila Real e Vila Pouca de Aguiar. Da linha limítofre até Santiago de Compostela, o caminho segue pela "Vía de la Plata", que é uma outra grande rota que parte de Sevilha.
O Caminho Português do Interior aliciou-nos pela sua recente divulgação, por poucos o conhecerem mas também porque seria um caminho antigo recuperado pelos municípios atravessados que se uniram no estudo sinalização e projecção de mais uma rota com destino a Santiago de Compostela.






Planeámos então iniciar o caminho no exacto dia em que cumpriria 1 ano do seu ressurgimento, a 24-04-2013, e aproveitando assim os dias em torno do feriado que celebra a liberdade portuguesa.
Neste dia seriam inaugurados mais 2 albergues e interessadamente julgámos que nos haveria de calhar algum fatia de bolo e um champanhe!



  • A pernoita
Para as dormidas pensámos servir-nos da hospitalidade dos 11 albergues disponíveis. Em Portugal temos o de Farminhão (apenas por aqueles que iniciam a rota 12kms antes de Viseu) Fontêlo, Almargem , Ribolhos, Bigorne, Penude, Bertêlo,  o Seminário Diocesano de Vila Real, Albergue de Santiago em Vila Pouca de Aguiar, o quartel dos B.V. Vidago, ou o quartel do Regimento de Infantaria de Chaves, isto em Portugal. Do lado espanhol são ainda mais.


Para podermos lá dormir precisamos de 2 coisas: a Credencial do Peregrino (emitida pela Associação Jacobeus com sede em Braga) e um saco-cama. Este último é muito útil para evitar lençóis menos conhecidos. Já a credencial é uma caderneta que atesta o ínicio e o fim do caminho e o percurso percorrido pelos carimbos que vai recebendo. Os carimbos podem ser efectuados nas esquadras da PSP, GNR, nas entidades eclesiásticas ou nos espaços comerciais "amigos do caminho". 



  • O transporte 
Para levarmos os haveres pusemos automaticamente de lado a hipótese da mochila. Apesar de ser talvez suficiente para caber toda a tralha que necessitamos, tem um limite de peso... nas costas. Dizem os entendidos que mais de 4,5Kgs é penoso e prejudicial. Para nós o limite é inferior, além de que as nossas bikes não são de suspensão total, e isso poderia ajudar pelo menos enquanto estamos a pedalar sentados.
A outra hipótese seria o uso de alforges na roda traseira e/ou na roda dianteira, mas uma vez mais as bicicletas colocam um entrave: são de carbono e desprovidas de zonas de aperto para os suportes metálicos dos alforges.


Restou o atrelado. Puseram-se mãos à obra construímos 2 atrelados a partir de um quadro 26' e de outro 24' que veio a ser "esticado" porque ambos vieram a apertar uma roda 26'. A 1ª fornada não funcionou na perfeição... mas depois de alguns ajustes e algumas soldaduras... conseguiu-se que ficassem estáveis.O 1º par de alforges também teve de ser alterado, e aí entrou a ajuda do Sr. Albino da Castanheira, separou-o em 2 metades e colocou molas de aperto rápido e umas tiras de velcro. Ficaram bem presos á estrutura do atrelado! O 2º par de alforges foi adquirido numa loja desporto, e a estrutura do atrelado foi executada por forma a receber as patilhas de encaixe que o alforge já trazia.
Os testes foram feitos até às vésperas da partida... assim como o carácter tuga obriga!!



  • Les Nécéssaires
Nesta parte houve um trabalho muito minucioso em torno da balança da cozinha: evitar os objectos pesados! Quer isto dizer que a toilette foi escolhida pela sua gramagem. Tudo foi pesado antes de ser metido em sacos de plástico e seccionado por utilidade e fraccionado pelos até 5 dias que prevímos que a jornada durasse. A toalha de banho, os 4 jerseys, e os 2 pares de calções; os 5 pares de meias 5 boxers e as 2 Tshirts; um par de calças de fato-de-treino, uma única sweatshirt, o par de sapatilhas e o par de luvas; o corta-vento, e os fantásticos chinelos de dedo Nº36 com apenas 60g !! A higiene pessoal foi também encolhida ao máximo: amostras de champô, lâminas de barbear descartáveis, protector solar vazado para mini-embalagens de champô, roll-on a meio uso! Tudo para reduzir ao máximo o peso a atrelar!
Mesmo assim é incrivel perceber o peso que grama-a-grama se vai somando no interior dos alforges...


  • Gadget Power

Entrar em trilhos desconhecidos requer uma ajuda gráfica que nos sirva de guia. É certo que o caminho está identificado com as típicas conchas e setas amarelas, mas precisávamos de redundância e sem hipótese de falha. Falo do dispositivo gps integrado no smartphone. A par dele mais 1 telefone (por razões profissionais) e uma câmara de vídeo. O Carlos também levaria um smartphone com ele. Todos estes vorazes comilões de electrões corriam o risco de ficar a sufocar por energia a meio do dia... 
Acabei por aquirir um acumulador de energia com 10.000 mAh com saída dupla USB, indicador de carga  e apenas 300g para garantir que não tínhamos de fazer buracos nas árvores para ligar o carregador...
Para ter os mapas sempre presentes no cockpit da bike, alterámos uma bolsa de telemóvel de braço para a apertármos no avanço do guiador. A câmara de filmar não era uma versão desportiva, mas foi aplicada numa bolsa feita em calfe para depois ser fixa nas alças do camelback. A mochila levava assim comida e uma Kodak HD ....para mais tarde recordar...



  • Ferramentas
Aqui está uma das mais pesadas necessidades. Chaves sextavadas, um elo de engate rápido, um dropout, uma câmara-de-ar com gel, os "desmontas", um canivete, 6 metros de guita/cordel, abraçadeiras de serrilha,
1 saca-elos; óleo lubrificante- Também não esquecemos um cadeado, que seria útil quando tivermos de deixar as bicicletas guardadas á noite, ou nas paragens para almoçar.


A seguir: o Dia1.
Fiquem por aí!

terça-feira, 23 de abril de 2013

Giro no Pedal: Descobrir o Caminho

Um novo trilho aproxima-se a passos de relógio.






Ideias soltas de há algum tempo tomaram forma. Alguma planificação e trabalhos de bancada  desembocam o resultado numa jornada de muita ansiedade e algumas horas de selim.  Espera-se a chegada em força da dita consistência nos próximos dias. Vamos aguardar a serenidade para que o Caminho passe por nós.



Fiquem por aí, para nos acompanharem!