quarta-feira, 1 de maio de 2013

OnTour: Caminho Português do Interior - Santiago de Compostela'13 DIA #1



Terça-feira 23 - o serão termina a encher os alforges, a montar as barras no tejadilho e a revisar todos os pontos da lista num papel encarquilhado de tanto ser remexido. É 01h00 e o arranque está marcado para as 06h15 rumo à Sé de Viseu.




De manhã a primeira paragem foi na PSP de Viseu ainda não eram 07h15. Havia algum movimento nas ruas, os académicos terminavam mais uma noite de "sério estudo" na semana que lhes é de festa. Mal o carimbo caiu nas 2 credenciais, abrimos as portas do carro e procuramos a zona velha para um estacionamento junto à igreja-mor na cidade berço de Viriato. Espalhamos o interior da bagageira pelo chão e começa a grande azáfama!








Depois das máquinas prontas, atrelados e alforges encaixados dirigimo-nos para a frente da Sé para a típica foto de arranque. A pressa foi tal que 2 voltas de pedal depois estávamos a parar para ligar o gps e conta-kilómetros.








O Caminho começa por se dirigir para a periferia de Viseu. Desce-se algumas ruas do centro histórico, para chegarmos á estrada da circunvalação e de seguida até à escola secundária de Viriato. Entrámos em terra batida depois de levantarmos a mão aos pequenotes da E.B. Azeredo Perdigão. Ligeiro reencontro com o alcatrão para sobrepassarmos o IP5. Mal demos conta estávamos fora de Viseu já com os pneus molhados na lama restante das últimas chuvadas. Estes primeiros metros foram passados a respirar o fresco matinal  , plenos de vontade em devorar kilómetros, dispostos a ultrapassar o que nos surgisse, com... aquele peito de quem está a começar!




À saída de Pousa Maria o primeiro "biscoito" do dia: um bonito pinhal com passagem numa calçada romana que veio a sair à Estrada da Praia logo antes de Almargem. E foi nesta terra que aproveitámos a presença do chafariz e abrir os cordões à bolsa...dos mantimentos. Hora da bucha!









Já de estômago composto voltámos ao caminho. E mal entrámos no concelho de Castro Daire, a diferença de trilhos começou a vir ao de cima. Terreno mais acidentado e com grandes declives. Tinha chegado a hora de "ligar o botão" da técnica. O largo e resvaladiço estradão que começámos a descer afunilou á entrada em Cabrum -  uma aldeia fantasma que tinha ganho nova vida à conta dos "rastaman's" alemães, holandeses e britânicos pelo que percebemos das matrículas dos enormes furgões da década de 80 ali estacionados.
As boas vindas foram-nos dadas logo à entrada por um habitante a segurar o cão com uma mão dentro do mercedes 609 , e com a outra mão a segurar o que parecia ser um cigarro em processo de fabrico...


Gente aparentemente amistosa que não se importou com a nossa passagem. Estavam uns a lavar roupa, outros à conversa. O single track, este primeiro, era delicioso e levou-nos até à ribeira de Cabrum   que corria a boa velocidade. Serviu para refrescarmos os pés, mesmo sem haver calor. Passámos por uma abóboda feita com ramos de árvore e semi-coberta com mantas e cobertores. No inteiror pedras que serviram de bancos e sinais de uma fogueira ao centro. Parece-me que era ali que "O Conselho da Tribo" se reunia à noite. O caminho até ali divertido estava à beira de dar um ar da sua graça. A 1ª subida foi um misto de péTT e BTT. Nada de extraordinário, serviria de "aquecimento".



Enquanto subíamos abrigados do sol pela sombra dos pinheiros não sentímos muito calor. Mas quando o trilho passou a estar aberto , a subida aumentou graus na inclinação... e apeados escalámos por entre os regos e pedras soltas . Não é um exagero, as biqueiras do sapato de encaixe passou a ser a única parte a tocar o solo e nesta altura agradeceríamos que fossem modelos com pitons...
Como somos novatos no tema das travessias, não estranhámos ao ponto de pôr em dúvida o caminho... mas quase. As excelentes marcações do caminho, e por excelente refiro-me a que em todos os cruzamentos estavam setas a indicar a continuação ou mudança de direcção, davam bons créditos ao trabalho das autarquias. O trajecto escolhido é que estava a destoar... Foi bastante custosa esta parte.
30ºC e a subida ia a meio... passámos ao lado do aviário que 1 ou 2 kms antes mudou o perfume da zona. 
Para quem não está habituado... pode ser extremamente incómodo, acreditem.


Em frente, assoma-se a povoação de Aguadalte.


A subida terminaria em "Vila Meã, onde o que se diz à noite não se diz de manhã!" - Assim nos respondeu um traseunte quando perguntámos a confirmar a nossa localização. Soltámos mais um "bom dia!"  quando chegámos ao fundo da pacata aldeia, precisávamos de um alicate para dar um aperto a um raio da roda do Carlos. Mesmo com a revisão feita em casas da especialidade, prova-se que as máquinas podem avariar mesmo antes de cumprirem os primeiros 25kms de uma viagem e que uma chave de raios pode dar  jeito...
Um pouco mais à frente e já em cima da hora do almoço aproveitámos a sombra e fizemos do trilho mesa.


Não parámos muito tempo, até porque ainda não tínhamos feito a kilometragem que estimámos.
Mas o terreno não estava a deixar avançar, bonitas paisagens mas pouco dadas a travessias de larga escala.
Este tipo de traçados não ajudam quem marca férias e tem um determinado intervalo de tempo para conseguir chegar ao final de um plano, mesmo com os descontos e margens que são obrigatórios.
Dá a ideia de que quem marcou o trilho não o fez a pé, a cavalo ou bicicleta, mas numa moto de trial...
Construtivamente digo que a política de fazer passar o caminho ora no cume da montanha ora a cruzar os riachos ora novamente no cume e sempre com solo não "pedalável", não alicia um regresso no mesmo formato. Olhando em redor, conseguimos sempre projectar alternativas, pois melhores trilhos havia para percorrer. 





Estávamos em Moledo e voltámos ao pedal, ou melhor, à caminhada, pois tínhamos mais uma subida inclinadissima para galgar. Ao chegarmos ao alto tínhamos o merecido descanso até Mões, uma freguesia pacata mas com gente simpática, ali reforçámos o "almoço" comido um par de horas antes.
Descemos Mões durante 5 minutos e logo ali ficámos pasmados com mais uma empinada para fazer  "à là mano".  Conferenciámos durante a subida  e concordámos que com aquele ritmo e não chegaríamos sequer a Lamego. Mudámos a estratégia para aquele dia e mal nos apanhámos novamente no alcatrão, em Grijó, não o largámos. Virámos pela N2 rumo a CastroDaire, e dentro da vila voltámos apanhar uma Sra. parede até à saída em direcção a Mezio. 

A curvatura das costas do Carlos mostram o empeno...
Não, não é marreca!













Passámos o parque industrial do Mezio e pouco depois quase que entrávamos no colo do pito.
Quer dizer.. quem ficou espantado foi o Carlos...

 







Na rotunda  que se vê nas fotos estamos a cerca de 960 metros de altitude. A boa notícia era que para o Albergue de Bigorne (a 100 metros) ou para Penude era sempre a descer!  Parámos para ligar uma vez mais para o Albergue de Penude mas infelizmente ninguém atendeu. Decidimos descer até Lamego para ali pernoitarmos. Escolhemos uma residencial logo à chegada que tinha lugar seguro para bicicletas e fomos tratar de um bom jantar e do merecido descanso. As pernas acusavam os 2247mts de acumulado de subida, distribuídos pelos 78kms que o track registado do 1º dia, confirma agora o software do pc.
O dia seguinte seria um novo teste de resistência, especialmente para o rabiosque pouco habituado a dias sucessivos de "assentamento no selim".





A seguir: o Dia #2
Fiquem por aí!






2 comentários:

Anónimo disse...

O vosso descritivo é um ótimo guia e boa base de referencia para nós. Há possibilidade de cedência do v. track?
Obrigado
David Armindo
http://trilhosemfim.blogs.sapo.pt/

Coelho disse...

Caro Armindo,

Obrigado pela visita.
Claro que podemos facultar o track. Aliás, havemos de o publicar aqui mesmo no blog. :)
Assim haja tempo.

Mas se quiser deixar contacto directo(e-mail) faço-o chegar mais cedo.

Boas pedaladas!
Coelho